19 março 2006

Férias

A Beira Alta é um lugar estranho.

As pessoas são quentes, o clima é frio. A paisagem é agreste com imenso granito à vista. A vegetação vai escasseando. Por causa do clima e do solo mas principalmente por causa dos fogos que a vão devorando a pouco e pouco. Li há uma semana que os chineses plantam biliões de árvores para travar o avanço do deserto. Em Portugal plantam-se eucaliptos à volta das fábricas de celulose, vai-se secando o solo e no resto do país deixa-se desertificar. É triste.

Foi na Beira Alta que passei parte destes dias. Nas aldeias os dias avançam devagar. A agricultura de subsistencia marca o dia para muitos. As obras em casa dos filhos da terra que estão emigrados marcam os dias para muitos outros.
Para quem vai de visita como eu, sabe muito muito bem o sossego. No entanto é triste ver que esse sossego mostra que a região está parada. A economia é frágil e parece desperdiçar as excelentes acessibilidades. A fronteira é logo ali. No céu passam os aviões cujo rasto desenha as nuvens, ouve-se ao longe o rugido dos motores. Falta empreendedorismo que vá além da pequena empresa de comércio.

Como sempre procuro fazer, num dos dias fui conhecer mais um ponto da zona. Desta vez fui até Espanha. Fui a uma cidade encantadora chamada Cuidad Rodrigo.
Assim que se passa a fronteira a paisagem muda: menos granito e fundamentalmente muito mais verde. A agricultura de regadio está em força e isso torna a economia mais forte. Cuidad Rodrigo é uma cidade totalmente construida por causa dos portugueses. Feita em barro e muralhada constituia uma das defesas contra uma possivel invasão lusa. A cidade está excelentemente conservada e tem uma catedral lindissima. A visita merece mesmo a pena. Tenham é atenção que a siesta ali cumpre-se e entre as 14h e as 18h está tudo fechado.

A excepção são os supermercados. Entrei num: Mercadona. Este super faz parte de uma cadeia regional que mistura os portugueses Minipreço (de capital francês) e Pingo Doce. Ou seja, a loja prima pela arrumação e variedade mas as marcas próprias (que não são facilmente reconheciveis) estão em força. Produtos lusos, apenas 2: TriNa e vinho Mateus. Os preços são quase sempre mais baixos. Podem dizer que é pela concorrência: mentira, o sector dos super português é dos mais competitivos da Europa e o Mercadona é dos poucos super em Cuidad Rodrigo. Podem dizer que é dos impostos: talvez. Quanto a mim é mais uma questão estratégica: menos intermediários e igual margem de lucro = preço mais baixo.

Foram assim estes dias. Precisava de mais, mas desta vez para ir viajar sozinho. Falta ainda a coragem de disfrutar só. Já vou ao cine sozinho o que é um bom passo. Afinal se nos sentirmos bem só connosco sentirnos-emos melhor também acompanhados.

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